Aqui vou ser feliz!

por Paulo Gaião 2005-09-23 14:02 in "Semanário"

Como no anúncio, Fátima Felgueiras, Avelino, Isaltino e Valentim bem podem ensaiar o grito de que "aqui vou ser feliz", aqui onde atrair hoje as televisões a Felgueiras ou a Amarante é o mesmo que há 200 anos aparecer com a locomotiva a vapor.

Fátima Felgueiras partiu no dia certo e chegou no dia certo. Partiu quando ia ser presa, chegou quando já não podia ser presa. Se não há aqui talento, há estrelinha. Por sua vez, Fatinha voltou no dia em que Sócrates fazia teste no Parlamento e em que as mulheres dos militares se manifestavam, revelando-se mais um factor de distracção, ainda melhor do que o referendo ao aborto. Fatinha também veio no dia em que havia debate na SIC-Notícias sobre Felgueiras, com os candidatos a presidente da Câmara, e na véspera do debate de ontem na RTP, com a presença da própria. É caso para dizer, como os espanhóis, que não se acredita em bruxas mas que as há, há. Como no anúncio, Fátima Felgueiras, Isaltino, Avelino e Valentim bem podem ensaiar o grito de que "aqui vou ser feliz", aqui onde levar hoje a televisão a Felgueiras ou a Amarante é o mesmo que há 200 anos aparecer com a locomotiva a vapor. Dá direito a muitos votos. Ainda com a agravante de que quando as coisas aqui chegam, o cavalo de ferro e a caixinha que mudou o mundo, já os outros passaram à novidade seguinte.

Já dizia o "liberal" Cavaleiro de Oliveira em 1759, curiosamente queimado em efígie no mesmo dia em que o ultramontano padre jesuíta Malagrida foi a queimar em pessoa no Terreiro do Paço, que "nada entra de novo em Portugal que não haja já envelhecido em outro país qualquer; mas tudo o que está em uso noutras partes aí entra contudo sempre no fim." No século XIX era o olhó comboio, hoje é o "olhó boneco". E ninguém os pode censurar. Aos felgueirenses, gondomarenses, amarantinos ou mesmo oeirenses.

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