10 fevereiro 2006

Valentim Loureiro no vértice do Apito Dourado

Ministério Público conclui pela existência de um triângulo de interesses no topo do qual está o major Valentim incentivaria José Luís Oliveira a pressionar Pinto de Sousa
O Ministério Público (MP) de Gondomar coloca Valentim Loureiro no centro da acusação do processo Apito Dourado, cuja parte relativa à corrupção desportiva foi dada por concluída com a formulação de 27 acusados. De acordo com informações recolhidas pelo JN, toda a matéria descrita pelo procurador adjunto Carlos Teixeira assenta no poder do arguido-autarca, que é simultaneamente presidente da Liga de Clubes de futebol. Poder esse que, para o MP, foi utilizado para fazer com que o Gondomar Sport Clube conseguisse, na época 2003/2004, a subida da II.ª Divisão B à Liga de Honra. Acusado de 26 crimes de corrupção activa, sob a forma de cumplicidade, bem como de dois crimes de prevaricação, o major é descrito como a pessoa que tinha real ascendente sobre José António Pinto de Sousa, ex-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol que acederia aos pedidos de José Luís Oliveira (presidente do Gondomar SC e vice-presidente de Valentim na autarquia) para a nomeação de árbitros que tivessem actuações favoráveis . O despacho final de acusação argumenta, até, que seria Valentim Loureiro quem incentivava José Luís Oliveira a pressionar Pinto de Sousa. Para sustentar essa tese, o magistrado do MP chega a afirmar que os três chegaram a falar sobre o assunto, em jantares e ao telefone. Ao longo da acusação são transcritos excertos de escutas telefónicas em que Oliveira pede ao autarca para "dar um aperto" ao responsável da arbitragem federativa. Valentim chegou efectivamente a falar com Pinto de Sousa pelo menos uma vez, alertando-o para a eventualidade de não estar a mandar no órgão a que presidia.
Escutas passadas ao papel
Segundo apurou o JN, a pretensa submissão de Pinto de Sousa a Valentim Loureiro é argumentada, pelo procurador responsável, através da amizade de há mais de 30 anos, bem como outro tipo de contrapartidas não directamente patrimoniais. No geral, o texto da acusação é sustentado, em cerca de metade do seu espaço, na transcrição de escutas telefónicas que, no entender do MP, indiciam corrupção desportiva em pelo menos 29 jogos da II Divisão B, cujas incidências foram analisadas por um trio de peritos composto por Jorge Coroado, Vítor Pereira e Adelino Antunes. De acordo com o esquema descrito na acusação, a nomeação dos árbitros verificar-se-ia em conversas entre Oliveira e Pinto de Sousa. Os nomes em discussão fariam parte de uma lista dos "dez preferidos". Depois, ao fim de cada partida, os homens do apito eram presenteados com artigos em ouro, fornecidos por um ourives de Gondomar e entregues ora por José Luís Oliveira, ora por Joaquim Castro Neves, também dirigente do Gondomar SC. Mas este não é o único clube em causa na acusação. É que também é referido o Sousense, agremiação da qual José Luís Oliveira era líder da Assembleia Geral. Esta colectividade, a actuar no campeonato distrital, terá sido beneficiada num jogo frente ao Bougadense, por influência do árbitro Pedro Sanhudo directamente sobre o trio de arbitragem. A colocar Valentim Loureiro ainda mais no centro do "furacão", o texto acusatório deste primeiro processo Apito Dourado imputa ao arguido dois crimes de prevaricação sem ligação aparente com a matéria desportiva. Trata-se, como o JN já adiantou na edição de sábado passado, de casos relativos à Câmara de Gondomar. Um tem a ver com o protelamento da demolição de uma obra pertencente a um seu apoiante chamado Carlos Castro. O outro tem a ver com a adjudicação - pelo preço negociado, e "apanhado" em escutas, de 19.500 euros -, da tarefa de elaboração de um boletim informativo autáquico à "Global Design", pertencente a um amigo de Valentim em África, tenente-coronel do Exército, António Ferreira, e ao filho, José Ferreira.
nuno miguel maia in JN de 9 de fevereiro de 2006